A história, que se
passa no Rio de Janeiro, nos apresenta como protagonista o cirurgião plástico
Felipe Barreto (Antonio Fagundes), um homem altivo e bem-sucedido
profissionalmente. Casado por mero interesse com Stela (Gloria Pires), filha do
empresário Herculano Maciel (Stênio Garcia), Felipe demonstra toda sua
amoralidade ao conhecer Márcia (Malu Mader), uma pobre e ingênua professora que
está noiva de Walter (Tadeu Aguiar), funcionário de sua clínica. Encantado desde
o primeiro momento em que a conheceu, o cirurgião fica ainda mais obcecado pela
moça quando descobre que ela é virgem. No dia do casamento de Márcia e Walter,
Felipe aposta com o amigo Júlio (Daniel Dantas) que consegue levar a noiva para
cama antes do próprio noivo. Aposta feita, o pilantra trata logo de pôr em
prática o seu plano egoísta, oferecendo aos recém-casados uma lua-de-mel no
Canadá, para onde ele também está partindo.
Na noite de núpcias do
jovem casal, Felipe dá um jeito de tirar Walter do hotel e seduz Márcia,
conseguindo consumar seu ardiloso esquema e saciando seu desejo por ela. Mas as
consequências dessa investida acabam sendo trágicas. Walter flagra os amantes
na cama e, desnorteado, sai de carro e sofre um acidente fatal. A morte dele
recai sobre as costas de Márcia, que é vista com desprezo por todos. Logo ela
descobre que está grávida e, ao procurar por Felipe, fica sabendo que o que
aconteceu naquela noite não passou de uma aposta barata, sendo ainda
aconselhada por ele a fazer um aborto. A professora não segue a recomendação,
mas acaba perdendo o bebê um tempo depois. Numa das cenas mais marcantes da
trama, Márcia, possessa, vai a clínica de Felipe e lhe corta o rosto com um
bisturi.
Arrasada com todos os
acontecimentos e disposta a se vingar de seu algoz, Márcia encontra na cafetina
Olga Portela (Fernanda Montenegro) o seu maior amparo. Com o auxílio dela, que
conhece muito bem os pobres do passado de Felipe, a professora consegue dar
início ao seu plano de vingança e coloca o cirurgião safado na cadeia. Só que,
a essa altura, ela já está apaixonada pelo cretino.
Para driblar a baixa audiência, Gilberto Braga
foi convencido a mudar o perfil de Felipe Barreto, pois a canalhice do
personagem não agradava ao público. Assim, o cirurgião acabou ganhando cores de
mocinho. A personagem de Malu Mader, excessivamente ingênua, também sofreu
rejeição e teve que ser reformulada. A cena do bisturi marcou essa mudança de
personalidade.
Ao mesmo tempo em que
a audiência repugnava os protagonistas de Fagundes e Malu, adorava o casal
Thaís (Letícia Sabatella) e Guilherme (Ângelo Antônio), o Beija-Flor. Ela, uma
garota que vê na prostituição uma alternativa para ascender socialmente. Ele,
um marginal que, para agradar de vez o espectador, se torna um homem de bem. O
romance deu tão certo que acabou ultrapassando a barreira da ficção. Letícia e
Ângelo se casaram logo após a novela e viveram juntos até 2003.
Para inflar os índices de audiência de "O
Dono do Mundo", Gilberto contou com a honrosa colaboração de Silvio de
Abreu, a quem tinha dado uma mão em "Rainha da Sucata" no ano
anterior. Juntos, os autores conseguiram imprimir maior agilidade à trama,
delinear melhor os personagens e, consequentemente, cativar o público. O fato é
que a novela, além de todos os problemas internos, vinha sofrendo ao dividir a
atenção da audiência com a mexicana "Carrossel" -- exibida com grande
sucesso pelo SBT --, que também fisgou uma respeitável porcentagem do
"Jornal Nacional". O embate entre as duas emissoras no horário
lembrou a briga que a Globo travou com a Rede Manchete em 1990, quando o canal
paulista emplacou o maior êxito de sua história: "Pantanal".
Com a reformulação
quase total, outros personagens e núcleos passaram a ganhar destaque em "O
Dono do Mundo", como a divertida socialite Karen, de Maria Padilha; o
romance entre Stela e Rodolfo (Kadu Moliterno, que Gilberto dizia ser o
verdadeiro mocinho da história); o núcleo do subúrbio; além dos já citados
Thaís e Beija-Flor, que conquistaram o carinho do público ao som de
"Codinome Beija-Flor", de Cazuza, na voz de Luiz Melodia.
Mas quem mais brilhou nessa nova fase foi
Nathalia Timberg. A sua amarga Constância Eugênia, mãe do personagem de
Fagundes, dizia os maiores impropérios, se tornando assim a grande vilã da
novela - mais uma na galeria da veterana atriz. Bom, dizer que Nathalia foi
quem mais brilhou em "O Dono do Mundo" talvez não seja a afirmação
mais correta, pois Fernanda Montenegro, que dispensa adjetivos, também estava
ali, na pele da já mencionada Olga Portela, uma cafetina impagável. E o melhor:
as duas consagradas atrizes eram ferrenhas
inimigas na trama. Constância odiava Olga por ela ter sido amante de seu
marido, Altair (Paulo Goulart). No fim, é revelado que a cafetina é a
verdadeira mãe de Felipe. O cirurgião, então, deixa de bancar as mordomias de
Constância, que é obrigada a mudar do luxuoso apartamento onde mora e a ver
seus móveis transportados por uma caminhonete chinfrim.